Medo: impostor ou aliado?

Medo: impostor ou aliado?
O medo que sentimos é visto, normalmente, por uma de duas perspectivas: como algo que nos impede de avançar e de viver o nosso propósito, quando nos bloqueia; ou como um aliado, quando protege do perigo.
Na verdade, a origem do medo é uma resposta evolutiva de sobrevivência para afastar-nos de ameaças, seja pela “fuga” ou pela “luta”. Esta emoção foi desenvolvida com visto à nossa auto-preservação. Sem ela, não teríamos sobrevivido enquanto espécie.
No entanto, por vezes, a pessoa com medo é vista como cobarde ou fraca. Mas, nem agora, nem ao longo da evolução da nossa espécie, o extremismo é ou foi solução. Não sobreviveria nem aquele que fosse o mais destemido e ignorasse todos os medos, nem aquele que entrasse em pânico com tudo e deixasse de viver e avançar. Nenhum dos dois chegaria a reproduzir-se e a perpetuar o seu DNA.
O meio-termo foi o equilíbrio necessário para chegarmos até aqui. E continua a sê-lo, para podermos viver a nossa vida de forma mais plena.
Ter medo não é fraqueza ou cobardia. É um sinal de alerta para algo que o nosso cérebro interpreta como “não seguro”. Cabe-nos, com a nossa racionalidade, entender se é um “perigo real” ou uma interpretação que precisa da nossa ajuda para ser corrigida.
Hoje em dia, apesar de termos menos perigos reais de ameaça à vida, como os predadores ferozes, temos outros medos que, por vezes, são paralisantes. Quanto maior o nosso conhecimento, maior a probabilidade de termos mais receios quanto ao que nos rodeia ou ao futuro. E é aí que vale a pena relembrarmo-nos que o equilíbrio está no meio-termo. Não tomar atitudes irrefletidas, mas não deixar que os medos e os receios do que “possa vir a acontecer” nos tolham e impeçam de seguirmos os nossos sonhos.
E como podemos transformar um medo num aliado? Percebendo que é ele que nos dá a oportunidade de descobrirmos o seu reverso. Se o enfrentarmos, vamos descobrir o outro lado do medo: a coragem. E devíamos cultivar este “confronto” mais vezes. Isso iria fortalecer a nossa auto-estima, a nossa noção de valor próprio e de quais são as nossas reais capacidades.
Sairmos mais da nossa zona de conforto, darmos pequenos passos fora da rotina habitual. Se o fizéssemos desde crianças, iríamos ter uma maior percepção da nossa força, da nossa coragem, da nossa capacidade de darmos a volta aos desafios da vida.
Por isso, hoje convido a esta reflexão. Observe e procure quais as situações que causam desconforto, receio, medo. Situações de vida, na relação com os outros, desafios pessoais ou profissionais. Todos os meses ou com a frequência que puder, ou sempre que alguma situação se apresentar à qual o seu primeiro instinto seria a fuga, pergunte-se: se eu superar este medo, este receio, se eu ultrapassar este desafio, se sair desta zona de conforto, como irei ver-me? Em que olharei para mim de forma diferente? Sempre que valer a pena, arrisque, tente, avance.
Pela minha experiência pessoal, essa sensação posterior de conquista e de superação, é um bálsamo de vida, de motivação, de orgulho e de alegria, que vale a pena sentir!
Também pela minha experiência, muitas vezes, são os nossos maiores medos que escondem os nossos maiores potenciais ou aquilo para que fomos feitos, o nosso propósito. Por isso, o cultivar da superação é tão importante. Porque vai minimizar a probabilidade de evitarmos e fugirmos daquilo que nos faria realmente felizes e com a sensação de que cumprimos o nosso propósito.
E o segredo não é esperar não termos medo para avançarmos! É avançarmos mesmo com medo.
Com medos e com coragem,


